Você não era

Eu não te conhecia. Nunca tinha te visto. Nós éramos da mesma sala e nunca tínhamos percebido um ao outro.
Um dia eu te vi. “Nada de anormal. Só mais um garoto.”
No outro dia te vi de novo. “Não. Ele parece ser diferente dos outros.”
Num outro dia, passei a observar você de longe. Seus óculos, seus cabelos desgrenhados, seu All Star sujo e velho. “Que legal! Ele é alternativo!”
E fiquei te olhando de longe por algum tempo.
Você e seus amigos eram super unidos e felizes. Adorava ver vocês rindo, se divertindo. Queria ser parte de seu círculo de amizade. “ Eles são tão cool!”
Passei a ficar obcecada por você. Sabia de seu horários, quando você chegava e saia. Sabia das suas manias, que você mordia a ponta das canetas, que não consegue ficar quieto durante as aulas e que você não assiste as aulas de Inglês.
Sentia vontade de te seguir, saber onde você ia... Queria fazer parte da sua vida, ser alguém importante pra você.
Então, decidi, finalmente, largar desse sentimento platônico e fazer você me notar.
Primeiro, comecei a me assentar todo dia perto de você. Você não me via.
Depois sentei mais perto ainda. Você nem percebia que eu existia.
“O que há de errado comigo?”
Tive uma idéia. Fiquei amiga de um amigo seu.
Nada de você me notar.
Desisti.

Hoje, eu sentei na carteira a sua frente. Você e seus amigos rindo e se divertindo...
Você me perturbou a aula inteira. Você não ficava quieto, dava coices na minha cadeira o tempo todo. Percebi que você tem chulé. Me levantei pra comprar alguma coisa para beber.
“Vai mesmo! Você não paga as minhas contas!” ouvi você dizer. “Se tiver incomodada, tira o cu da reta.”
Meu Deus. Você é um idiota.

Eu criei você na minha cabeça. E você era perfeito.
Mas na verdade, você é um cara vazio. Algumas horas perto de você e vi o quanto eu fantasiei em cima da imagem que criei de você.
Eu imaginei que você fosse o cara certo.
Mas você não era.